Faial – Caldeirão do Cabeço Verde (Av)

Área - Faial – Caldeirão do Cabeço Verde (Av)
Espécie - Azorina vidalii
Ilha - Faial

Das quatro populações de vidália conhecidas na Ilha do Faial, três –  a do Monte da Guia, a do Morro de Castelo Branco e a do Porto de Castelo Branco – foram introduzidas no meio natural pelo Jardim Botânico do Faial desde há cerca de 30 anos. No entanto, em 1999 o botânico alemão Hanno Schäfer, durante o seu exaustivo estudo sobre a botânica dos Açores, identificou uma peculiar e interessante população de Azorina vidalii (vidália) no Caldeirão do Cabeço Verde que nunca tinha sido identificada até à data. O Caldeirão é um cone secundário do vulcão do Cabeço Verde, na península do Capelo, Faial, localizado entre os 320 e os 350 metros de altitude. Quem esteja familiarizado com esta espécie e esteja habituado a encontrá-la nas zonas costeiras, na faixa de vegetação mais próxima do mar, pode estranhar o facto de ela aqui existir a esta altitude e a cerca de 2Km da linha de costa. Esta pequena população de vidália, com cerca de 20 indivíduos, cresce nas fendas da vertente rochosa virada a sul do interior do Caldeirão numa situação muito peculiar. A presença desta espécie aqui é estranha mas não é a única ocorrência que faz pensar na existência de condições ecológicas muito particulares neste local. É que existem outras espécies eminentemente marítimas no local, inclusive de ocorrência restrita, como a Tolpis succulenta (visgo). Continua a ser um mistério a forma como estas plantas aqui chegaram.

O declínio que tem vindo a ser registado no efetivo populacional desta população leva a que sejam tomadas medidas efetivas para a sua proteção. Os primeiros esforços de reforço populacional com plantas provenientes de sementes desta população foram feitos em 2010, embora sem sucesso (ver: https://shar.es/a3MDfd). Os coelhos terão sido a causa do desaparecimento das novas plantas. Agora, com o Projeto LIFE VIDALIA em curso, estão a ser postos em prática todos os conhecimentos adquiridos no Jardim Botânico do Faial ao longo de décadas de trabalho com esta espécie no sentido de aumentar o número de plantas de vidália existentes nas ilhas do Triângulo e particularmente no Caldeirão do Cabeço Verde. Para tal foram planeadas um conjunto de ações que começaram em 2018 com a recolha de sementes no local, a sua conservação a longo prazo no Banco de Sementes dos Açores e a sua propagação no Viveiro de plantas Raras do Jardim Botânico.

A área de intervenção definida no âmbito do LIFE VIDALIA, abrange a área de ocorrência das vidálias, bem como uma larga área em seu redor. A perspetiva é intervir na parede rochosa, libertando as fendas onde crescem as vidálias de espécies invasoras, dando assim oportunidade à espécie para colonizar estes locais, mas também criar novas áreas para onde a população se possa expandir. Em seu redor será criada uma área tampão, tão livre quanto possível de invasoras, preservando assim igualmente todo o habitat.

Esta intervenção, além de colocar alguns desafios técnicos, engloba condições ambientais completamente diversas daquelas encontradas nas zonas costeiras. Das espécies invasoras a combater destacam-se o Pittosporum undulatum (incenso), o Hedychium gardenerianum (roca-de-velha) e o Cyrtomium falcatum (feto-azevinho). Quanto ao tipo de vegetação a preservar, encontram-se espécies típicas de habitats de charneca macaronésica, laurissilva mésica e de laurissilva húmida. Este local é aliás uma mistura interessante de diferentes tipos de vegetação.

A obrigação de trabalhos em altura e verticais, o grau de infestação presente na maior parte da área e as espécies invasoras presentes são fatores que conferem a esta operação um grau de complexidade elevado.

Aqui, os trabalhos de reforço populacional são dirigidos apenas à Azorina vidalii, uma vez que se considera que este ecossistema terá capacidade de recuperar naturalmente após o controle das espécies exóticas invasoras que sobre ele exercem pressão.