Decorreu na passada semana, no Jardim Botânico do Faial, um workshop destinado às partes interessadas no projeto Life Vidália. Este projeto tem como alvo espécies da flora endémica protegidas pela Diretiva Habitats, nomeadamente a vidália (Azorina vidalii) e o Lotus azoricus, e como âmbito territorial as ilhas do Faial, Pico e São Jorge.


O workshop foi interessante, tendo-se desenvolvido um debate enriquecedor que envolveu os dinamizadores do workshop, técnicos pertencentes ao Parque Natural de Ilha do Faial, e todos os participantes, com particular relevo para os agentes de turismo e para elementos representantes da comunidade escolar. Houve um aspeto particular que me chamou à atenção nesse debate, que é a constatação da necessidade de se fornecerem narrativas sobre a conservação da natureza e sobre a paisagem aos agentes de turismo.


São os agentes do turismo, nomeadamente aqueles que oferecem visitas interpretativas e caminhadas aos seus clientes, e os trabalhadores dos alojamentos turísticos que lidam mais diretamente com os turistas. Para que possam oferecer um serviço diferenciador aos seus clientes precisam de narrativas. O ideal é que essas narrativas sejam consentâneas com o estado do ambiente e com as necessidades de conservação da natureza do arquipélago.


Se os agentes do turismo que oferecem visitas interpretativas e caminhadas estão, geralmente, munidos de ferramentas que lhes permitem oferecer aos seus clientes algumas dessas narrativas, o mesmo não acontece com a generalidade dos trabalhadores dos alojamentos turísticos e restauração, e é a estes que os turistas recorrem de um modo mais abrangente para pedir indicações ou reforçar a imagem que têm sobre os aspetos da paisagem que experienciam. É, portanto, necessário que a informação correta e as ações de sensibilização ambiental passem também por estes últimos.


As questões relacionadas com a proliferação de espécies de flora e fauna invasoras colocam-se ao nível de todo o mundo, e estão relacionadas com a ação antrópica sobre o território, nomeadamente com as alterações dos usos do solo e com a atual facilidade de comunicação e transportes. No entanto em ecossistemas insulares isolados, como é o caso do arquipélago dos Açores, essa questão coloca-se mais prementemente já que aqui o número de espécies endémicas é baixo e o aumento da biodiversidade à custa de espécies exóticas, algumas delas invasoras, se situa entre os mais elevados mesmo a nível mundial.


De facto, os endemismos açorianos são em número bastante reduzido, se comparado com os restantes arquipélagos da Macaronésia, pelo que os ecossistemas naturais possuem um funcionamento aparentemente simples. No entanto, é precisamente por terem sido poucas as espécies que tiveram condições de se instalar originalmente neste arquipélago e evoluir formando ecossistemas viáveis que os endemismos açorianos são muito importantes. Assim, a sua preservação depende em muito das atitudes da sociedade face ao ambiente, nomeadamente do assumir como prioridade a necessidade de erradicação de espécies invasoras e preservação da vegetação e fauna endémica de um modo planeado e consequente.


O fornecimento de informação aos mais diversos agentes de turismo sobre toda esta temática, incluindo narrativas sobre o estado de conservação atual de determinadas espécies ou ecossistemas, poderá aumentar a sensibilidade para estas questões tanto por parte da sociedade em geral como das pessoas que nos visitam. O que é expetável é que tanto as pessoas que cá vivem como as que nos visitam, e que estabelecem um vínculo afetivo em relação às nossas paisagens, possam colocar uma questão essencial quanto às necessidades de conservação da natureza dos Açores: “em que posso ajudar?” 

Escrito por Cláudia Ávila Gomes

Fonte: Tribuna das Ilhas